MINHA INFÂNCIA

O trem ia se distanciando da estação e a minha mãe inclinada no ombro do meu pai derramava lágrimas de saudade e tristeza pelo afastamento que nós estávamos tendo, pois eu estava indo com a minha tia Mirian para estudar na casa dos meus avós em Guaraciaba do norte, Região serrana e fria do Ceará. Era natural que eu não me adaptasse tão bem aos estudos e fosse reprovada, afinal de contas eu tinha apenas seis anos de idade. Apesar do carinho e apoio dos meus avós e tias, não consegui bom êxito estudantil.

Quando voltei de Guaraciaba, minha mãe estava grávida do meu segundo irmão, o Rosivaldo. Foi preparado um enxoval todo azul e muito bonito. Há sete anos não tínhamos bebê em casa. Todos esperavam com euforia. Rosivaldo foi o xodó do papai, por ser homem e por ter ficado tanto tempo sem ter filhos. Menininho esperto e traquino era ele! Toda a sua energia foi requisito importante para moldar o caráter determinado, valente e altruista do homem que ele é hoje.

Em Crateús eu estudava no período vespertino no Grupo Escolar Lourenço Filho que depois passou a ser chamado de Escola Estadual de primeiro grau Lourenço Filho. Eu ia para a escola com minha saia azul-marinho de pregas com uma pequena fita vermelha e fivela na cintura. A blusa era de tricoline branco, sapatos colegiais pretos e meias brancas.


Sofri muitas críticas e preconceitos dos colegas, pelo fato de eu ser evangélica. Eu nunca revidava e algumas vezes voltava para casa humilhada e chorando.

No segundo semestre do meu terceiro ano meu pai escreveu uma carta para a diretora da escola, pedindo a minha transferência para a Escola Estadual de primeiro grau Lions Clube que era mais perto da nossa casa. O quarto ano foi com a D. Síria que já tinha sido minha professora no primeiro ano. Reconheço que não entendia muito bem as matérias. No quinto ano eu desabrochei! Entendia tudo com facilidade e só tirava notas boas. Era o início da adolescência e tudo era novidade e descobertas. Duas professoras marcaram minha vida para sempre. A Machadinha que ensinava Português e Estudos Sociais e a Joaninha que ensinava Matemática e Ciências.

Meu irmão Rogério e eu brincávamos de casinha, fazer comidinha, dirigir cultos evangélicos, onde ele era o pastor e eu era a esposa do pastor; sem saber estávamos preanunciando algo que anos depois tornou-se realidade.

Nós preparávamos bolinhos de terra com água e a tardinha quando voltávamos da escolinha da tia Valdivia verificávamos se os bolos estavam prontos. Claro que tinham secado com o sol causticante e quentura demasiada do nosso saudoso Ceará.

Os banhos no riacho e açude eram uma festa de alegria. Aproveitávamos quando mamãe ia para lavar roupa com outras mulheres ou as vezes simplesmente para banhar. Junto com os nossos primos aprontávamos muita algazarra. Tudo isso era muito bom, mas tinhamos que aproveitar ao máximo, pois era só no tempo da chuva, porque depois que as chuvas acabavam, restavam somente as cacimbas de onde as famílias tiravam água para garantir a sobrevivência.

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